sábado, 3 de março de 2012

A semiótica da Pokébola

Uma das melhores coisas de viajar é que você passa a entender melhor o mundo. Por mais que você estude livros sobre uma cultura, sempre vai ter um detalhezinho que o escritor achou que não precisava colocar, porque era óbvio. Mas o que é óbvio para o nativo não é necessariamente óbvio para o viajante, e aprender a decodificar o novo óbvio pode ser muito divertido.

Por exemplo, enquanto eu passeava por Tokyo, consegui solucionar uma dúvida que sempre tive: por que raios os pokémons são guardados em pokébolas? Isso sempre me pareceu muito arbitrário! Não seria melhor uma poké-caixinha de transporte ou algo assim?

Pikachu, eu escolho você!

O segredo todo estava no conceito que chamei de coleção aleatória. Por exemplo: no Brasil, as crianças costumam comprar álbuns de figurinhas. Para preencher o álbum, você compra saquinhos lacrados com os cromos. Do ponto de vista do mercado, faz sentido isso? Por que o cliente iria gastar o dinheiro dele num saquinho lacrado, sem saber o que tem dentro, e correndo o risco de só ter figurinhas repetidas?

A resposta, é claro, é que a graça das figurinhas é poder trocar com os amigos. Álbuns de figurinhas só tem graça num contexto social onde você pode interagir para completar sua coleção. Nesse caso, se vierem figurinhas repetidas, tanto melhor, você as usa pra trocar com os manos por uma que você ainda não tem.

No Japão também existem figurinhas, mas não são a única coleção aleatória que eles tem. Por lá, tem outra coisa que você pode comprar: bolinhas de colecionador.

As máquinas de bolinhas em Akihabara

Em qualquer lugar onde há crianças em Tokyo, você vai ver uma máquina de bolinhas. Você insere algumas moedas (em geral de 100 a 400 yen), gira uma alavanca e cai uma bolinha aleatória da máquina. Dentro da bolinha vem um brinquedo, como se fosse um Kinder Ovo sem o chocolate.

Na frente da máquina de bolinhas, tem a descrição da coleção. Eu vi de tudo nessas máquinas, desde miniaturas de animes como One Piece e Evangelion, séries clássicas como Ultraman e Kamen Rider, até coisas mais bizarras como iscas de pesca de pelúcia, ou esculturas gregas com kimonos.

As crianças de lá compram as bolinhas como as nossas compram figurinhas. Se vier uma bolinha repetida, você troca com o amigo; e quem tem uma coleção completa ganha status com o grupo.

Sabendo da existência das bolinhas de colecionador, as Pokébolas fazem todo o sentido. Se você for um designer de um universo onde crianças colecionam e trocam monstrinhos, onde você guardaria esses monstrinhos? Em uma bola, é óbvio!

Brinquedo aleatório, eu escolho você!

Eu nem sei dizer se foi proposital, a idéia pode ter vindo subconscientemente para o escritor. Mas o signo é tão forte que até o tamanho das Pokébolas bate com as bolinhas da máquina!

3 comentários:

  1. Aqui no Brasil capturamos pokémons com saquinhos.

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  2. O Pokemon veio das bolinhas colecionáveis, ou as bolinhas vieram dos pokemons???

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  3. como se chamam essas maquinas do japao?

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