quarta-feira, 7 de março de 2012

O Japão Reconstruído

Antes de pousar em Osaka, eu conferi na wikitravel quais eram os passeios divertidos na cidade. A opinião unânime era de que o passeio mais memorável era no Castelo de Osaka, mas eu não queria ir pra lá. Eu sabia que esse castelo tinha sido destruído durante um bombardeio americano na segunda guerra, e o castelo atual era só uma reconstrução. Melhor gastar o tempo no Japão com castelos originais né?

Em retrospecto, agora eu vejo que isso foi um erro. Não é apenas o Castelo de Osaka que é uma reprodução, praticamente tudo que você for visitar no Japão foi reconstruído em algum ponto. O motivo é claro: dada a propensão a terremotos, tsunamis, erupções vulcânicas e guerras com vizinhos, nada dura no Japão por muito tempo.

Mas, de longe, o maior vilão dos monumentos japoneses é o incêndio. Boa parte das reconstruções foram devidas a um incêndio. Isso é fácil de explicar se você prestar atenção num monumento típico japonês, como as onipresentes pagodas:


Convenhamos, se você vai fazer um monumento pontudo, apontando para o céu, e com material inflamável, não tem como reclamar de incêndio né? Quando o Tokugawa fechou o Japão para o exterior, ele também impediu a entrada da ciência ocidental que se desenvolvia. Aí, enquanto os japoneses brigavam com espadinha, do outro lado do Pacífico o Franklin inventava o pára-raios, que teria salvo muitos monumentos japoneses.

Só para dar um exemplo de quantos monumentos japoneses passaram por apuros, fiz uma lista com alguns dos que visitei:

O Castelo de Nijo


O Castelo de Nijo teve a construção iniciada em 1601 por ordem do próprio Tokugawa. Em 1750 ele foi destruído num incêndio causado por um raio, e poucos anos depois, em 1788, foi destruído novamente em um incêndio que queimou quase toda a cidade.

O Templo de Toji


Erigido no ano de 796, o templo de Toji foi onde surgiu inicialmente o Budismo Shingon. No século 16, incêndios e guerras destruíram a maior parte do complexo, e o Kondo, o prédio principal da foto, só foi reconstruído em 1603.

O Templo de Todaiji


Criado no ano de 742, o complexo de Todaiji possuía originalmente duas enormes pagodas de 100m de altura, que caíram num terremoto. O Daibutsuden, prédio principal do complexo e também o maior prédio em madeira do mundo, era originalmente ainda maior. Depois que dois incêndios destruíram o prédio original, ele foi reconstruído com 30% a menos de altura.

O Daibutsu


A estátua gigante de bronze do Buda Vairocana, dentro do Daibutsuden, literalmente perdeu a cabeça durante um terremoto. Vendo de perto dá pra ver claramente que a cabeça não foi feita na mesma época que o corpo.

A Estátua de Hachiko


A estátua do lendário cão Hachiko, que toda noite esperava o dono voltar na estação de trem, mesmo nove anos depois dele morrer, foi uma vítima dos esforços da segunda guerra, onde todo o metal disponível foi derretido para virar armas. A estátua atual foi criada depois da guerra, pelo filho do escultor original.

Hiroshima


De longe a maior reconstrução do Japão, a cidade foi completamente pulverizada pela bomba atômica do fim da segunda guerra, e hoje em dia é uma metropóle imensa.

Depois de ver todos esses exemplos, você pode se perguntar: vale a pena ir ao Japão se tudo o que você vai ver são réplicas? A resposta é que se você está pensando assim, não absorveu o espírito japonês ainda.

No Japão, os monumentos são como rios: certamente nenhuma gota de água ou pedrinha no leito do Rio Amazonas está lá desde a época da colônia, mas ainda assim nós falamos que é o mesmo rio, desde o descobrimento. Da mesma maneira, pode ser não ser o mesmo toco de madeira que está lá no templo desde a sua construção, mas para os japoneses ele ainda é o mesmo templo.

3 comentários:

  1. Muito interessante mesmo esse pensamento.

    Realmente vemos como o Japão tem experiência nisso, nesse recente episódio do Tsunami.

    ResponderExcluir
  2. Olá Ricardo Bittencourt.

    Muito Legal seu Blog, parabéns. Fui para Índia ano passado e quero ir para o Japão em 2014. Compensa ir sem Guia?

    Obrigado

    Luiz Felipe Zanini

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Só se você souber falar japonês ou tiver amigos por lá. Eu me virei bem sem guia porque falo um pouco da língua, quase ninguém lá fala inglês, especialmente se você quiser se aventurar pelo interior.

      Excluir