quarta-feira, 14 de março de 2012

Evangelion World

A primeira vez que assisti Evangelion foi por volta de 1997, na época de ouro dos fansubs brasileiros. Eu comprei a série pelo correio, e foram várias semanas até chegar a caixinha com os episódios gravados em VHS pirata. Desnecessário dizer que foi vício instantâneo!

Até hoje a série faz sucesso, e nos últimos anos teve um revival por causa do remake em HD que está sendo lançado em forma de filmes. O anime ainda é popular o suficiente patra justificar a existência de um parque temático no Japão, e estando lá é claro que não poderíamos deixar de visitá-lo :)

Entrada do Evangelion World

O Evangelion World fica na cidade de Fujiyoshida, bem no sopé do Monte Fuji. Não tem nenhum trem bala que siga direto para Fujiyoshida, então a maneira que eu recomendo para chegar lá é pegar o ônibus direto que parte da estação Shinjuku, em Tokyo (1h30 de viagem, mais ou menos, mas a vista no caminho é linda).

Logo na primeira sala, já tinha um modelo lindão do EVA-01, ele devia ter mais ou menos um metro de altura:


A sala seguinte era a sala de reuniões do Gendo Ikari, completa inclusive com os monolitos sound-only da Seele. Como a iluminação era super bem feita, dava pra tirar uma foto igual à do anime!



Para quem não lembra, o original é assim:


Em seguida, um modelo da Mari, a nova criança que aparece no filme mais recente. Note que não é uma miniatura, ela está em tamanho real, escala 1:1 mesmo!


Na mesma sala tinha o Kaworu em escala 1:1, que eu fiz questão de dar porrada. A verdade que é que eu queria tirar uma foto dando porrada no Shinji, mas ele é tão impopular que nem tem modelo 1:1 dele por lá :)


Logo adiante, um modelo 1:1 do entry plug do EVA-02. A Ila fez questão de ir de vermelho e de comprar uns ear plugs para ficar mais parecida com a Asuka :)


Na sala que tem o entry plug do EVA-02 também tinha uma Asuka em escala 1:1.


Continuando, uma surpresa! O EVA-02 em estado berserk saindo pela parede, em tamanho natural!


Dali em diante você segue por dentro dos corredores da NERV, onde eles recriaram algumas cenas clássicas dos episódios.


Eu sempre achei essa aqui a cena mais angustiante da série inteira:


O Kaji sempre atrás da mulherada:


Nesse corredor tinha só uma porta com um olho mágico. Curioso, fui ver do que se tratava:


Ahá! Era a Ritsuko cuidando da Rei!


Na sequência, o ponto alto do passeio: o EVA-01 em escala 1:1, mergulhado no LCL, exatamente como aparece pela primeira vez no anime.


A cada 15 minutos a Misato tenta conectar o Dummy System no EVA-01 e ele fica doidão:



Depois da apresentação do EVA-01, você entra numa sala cheia de desenhos de produção dos filmes novos. Entre outras coisas divertidas, tinha o walkman que usaram como modelo para o radinho que o Shinji sempre está ouvindo:


Model sheets da Asuka de mini saia, pijama e biquíni:


E também um curioso model sheet da bunda da Asuka:


Na sala final tinha dois painéis para você tirar fotos, o primeiro é da Lilith:


O segundo é um painel semi-transparente onde você pode romper o AT-Field!


Naturalmente, na saída tem a indefectível lojinha onde você pode comprar de tudo:


E note que é de tudo mesmo, até travesseiro gigante da Asuka e da Rei, sucesso entre os japoneses carentes:


Por fim a Ila, que entrou no parque vestida de Asuka, acabou comprando os óculos da Mari e até prendeu o cabelo como ela :)


Mas a experiência Evangelion não termina aqui! Por 500 dólares você pode passar uma noite no hotel do Evangelion, onde você dorme dentro de um entry plug acompanhado de um modelo 1:1 da Rei! É meio caro, mas em geral hospedagem no Japão é cara mesmo, ainda mais para quartos como esse, que tem vista para o Monte Fuji.

quarta-feira, 7 de março de 2012

O Japão Reconstruído

Antes de pousar em Osaka, eu conferi na wikitravel quais eram os passeios divertidos na cidade. A opinião unânime era de que o passeio mais memorável era no Castelo de Osaka, mas eu não queria ir pra lá. Eu sabia que esse castelo tinha sido destruído durante um bombardeio americano na segunda guerra, e o castelo atual era só uma reconstrução. Melhor gastar o tempo no Japão com castelos originais né?

Em retrospecto, agora eu vejo que isso foi um erro. Não é apenas o Castelo de Osaka que é uma reprodução, praticamente tudo que você for visitar no Japão foi reconstruído em algum ponto. O motivo é claro: dada a propensão a terremotos, tsunamis, erupções vulcânicas e guerras com vizinhos, nada dura no Japão por muito tempo.

Mas, de longe, o maior vilão dos monumentos japoneses é o incêndio. Boa parte das reconstruções foram devidas a um incêndio. Isso é fácil de explicar se você prestar atenção num monumento típico japonês, como as onipresentes pagodas:


Convenhamos, se você vai fazer um monumento pontudo, apontando para o céu, e com material inflamável, não tem como reclamar de incêndio né? Quando o Tokugawa fechou o Japão para o exterior, ele também impediu a entrada da ciência ocidental que se desenvolvia. Aí, enquanto os japoneses brigavam com espadinha, do outro lado do Pacífico o Franklin inventava o pára-raios, que teria salvo muitos monumentos japoneses.

Só para dar um exemplo de quantos monumentos japoneses passaram por apuros, fiz uma lista com alguns dos que visitei:

O Castelo de Nijo


O Castelo de Nijo teve a construção iniciada em 1601 por ordem do próprio Tokugawa. Em 1750 ele foi destruído num incêndio causado por um raio, e poucos anos depois, em 1788, foi destruído novamente em um incêndio que queimou quase toda a cidade.

O Templo de Toji


Erigido no ano de 796, o templo de Toji foi onde surgiu inicialmente o Budismo Shingon. No século 16, incêndios e guerras destruíram a maior parte do complexo, e o Kondo, o prédio principal da foto, só foi reconstruído em 1603.

O Templo de Todaiji


Criado no ano de 742, o complexo de Todaiji possuía originalmente duas enormes pagodas de 100m de altura, que caíram num terremoto. O Daibutsuden, prédio principal do complexo e também o maior prédio em madeira do mundo, era originalmente ainda maior. Depois que dois incêndios destruíram o prédio original, ele foi reconstruído com 30% a menos de altura.

O Daibutsu


A estátua gigante de bronze do Buda Vairocana, dentro do Daibutsuden, literalmente perdeu a cabeça durante um terremoto. Vendo de perto dá pra ver claramente que a cabeça não foi feita na mesma época que o corpo.

A Estátua de Hachiko


A estátua do lendário cão Hachiko, que toda noite esperava o dono voltar na estação de trem, mesmo nove anos depois dele morrer, foi uma vítima dos esforços da segunda guerra, onde todo o metal disponível foi derretido para virar armas. A estátua atual foi criada depois da guerra, pelo filho do escultor original.

Hiroshima


De longe a maior reconstrução do Japão, a cidade foi completamente pulverizada pela bomba atômica do fim da segunda guerra, e hoje em dia é uma metropóle imensa.

Depois de ver todos esses exemplos, você pode se perguntar: vale a pena ir ao Japão se tudo o que você vai ver são réplicas? A resposta é que se você está pensando assim, não absorveu o espírito japonês ainda.

No Japão, os monumentos são como rios: certamente nenhuma gota de água ou pedrinha no leito do Rio Amazonas está lá desde a época da colônia, mas ainda assim nós falamos que é o mesmo rio, desde o descobrimento. Da mesma maneira, pode ser não ser o mesmo toco de madeira que está lá no templo desde a sua construção, mas para os japoneses ele ainda é o mesmo templo.

sábado, 3 de março de 2012

A semiótica da Pokébola

Uma das melhores coisas de viajar é que você passa a entender melhor o mundo. Por mais que você estude livros sobre uma cultura, sempre vai ter um detalhezinho que o escritor achou que não precisava colocar, porque era óbvio. Mas o que é óbvio para o nativo não é necessariamente óbvio para o viajante, e aprender a decodificar o novo óbvio pode ser muito divertido.

Por exemplo, enquanto eu passeava por Tokyo, consegui solucionar uma dúvida que sempre tive: por que raios os pokémons são guardados em pokébolas? Isso sempre me pareceu muito arbitrário! Não seria melhor uma poké-caixinha de transporte ou algo assim?

Pikachu, eu escolho você!

O segredo todo estava no conceito que chamei de coleção aleatória. Por exemplo: no Brasil, as crianças costumam comprar álbuns de figurinhas. Para preencher o álbum, você compra saquinhos lacrados com os cromos. Do ponto de vista do mercado, faz sentido isso? Por que o cliente iria gastar o dinheiro dele num saquinho lacrado, sem saber o que tem dentro, e correndo o risco de só ter figurinhas repetidas?

A resposta, é claro, é que a graça das figurinhas é poder trocar com os amigos. Álbuns de figurinhas só tem graça num contexto social onde você pode interagir para completar sua coleção. Nesse caso, se vierem figurinhas repetidas, tanto melhor, você as usa pra trocar com os manos por uma que você ainda não tem.

No Japão também existem figurinhas, mas não são a única coleção aleatória que eles tem. Por lá, tem outra coisa que você pode comprar: bolinhas de colecionador.

As máquinas de bolinhas em Akihabara

Em qualquer lugar onde há crianças em Tokyo, você vai ver uma máquina de bolinhas. Você insere algumas moedas (em geral de 100 a 400 yen), gira uma alavanca e cai uma bolinha aleatória da máquina. Dentro da bolinha vem um brinquedo, como se fosse um Kinder Ovo sem o chocolate.

Na frente da máquina de bolinhas, tem a descrição da coleção. Eu vi de tudo nessas máquinas, desde miniaturas de animes como One Piece e Evangelion, séries clássicas como Ultraman e Kamen Rider, até coisas mais bizarras como iscas de pesca de pelúcia, ou esculturas gregas com kimonos.

As crianças de lá compram as bolinhas como as nossas compram figurinhas. Se vier uma bolinha repetida, você troca com o amigo; e quem tem uma coleção completa ganha status com o grupo.

Sabendo da existência das bolinhas de colecionador, as Pokébolas fazem todo o sentido. Se você for um designer de um universo onde crianças colecionam e trocam monstrinhos, onde você guardaria esses monstrinhos? Em uma bola, é óbvio!

Brinquedo aleatório, eu escolho você!

Eu nem sei dizer se foi proposital, a idéia pode ter vindo subconscientemente para o escritor. Mas o signo é tão forte que até o tamanho das Pokébolas bate com as bolinhas da máquina!