terça-feira, 15 de setembro de 2015

Stalkeando Newton

Em 2014 nós fomos visitar a Inglaterra, que é um ótimo destino para quem gosta de história da ciência. Inúmeros cientistas criaram suas teorias por lá. E, de todos eles, o mais famoso certamente é o Isaac Newton. Se você tiver tempo, é possível visitar vários dos lugares onde ele viveu!


Nós começamos pelo Trinity College em Cambridge, onde o Newton estudou e criou a maior parte de seus trabalhos, incluindo o Cálculo, a Gravitação e a Óptica. Na entrada tem uma estátua do Henry VIII, o rei inglês que fundou o Trinity College, muito famoso por servir de inspiração para o Rick Wakeman (é assim que eu lembro dele, pelo menos):


Uma coisa muito importante que você precisa saber que é o Trinity College é fechado para visitação durante os meses de aula, um não-aluno só pode entrar lá no período de férias. Entretanto, o grande pátio pode ser visitado mediante uma módica doação para a faculdade. Provavelmente por isso, é exatamente o pátio que aparece no primeiro capítulo do novo Cosmos, quando eles falam da juventude do Newton:


Embora oficialmente você só possa visitar o pátio, sempre rola gastar aquele bônus de +2 em Stealth para tentar ver o resto do local. Um dos locais que eu consegui visitar foi o dormitório onde ele descansava, era em um dos quartos dentro dessa portinha:


Nós também tivemos a sorte de ver um gato preto ali no dormitório! O Newton era conhecidamente um fã de gatos. Na verdade, uma das invenções atribuídas a ele é aquela entrada para gatos na parte de baixo das portas. Diz a lenda que o Newton fez dois furos na porta, um grande para a gata-mãe, e outro pequeno para os filhotes, e depois se arrependeu porque percebeu que os filhotes estavam usando o mesmo furo da mãe. (Essa lenda nunca foi comprovada, mas o fato é que na casa de infância dele realmente tem esses furos na porta).


Nós não fomos na casa de infância dele porque fica muito no interior, então não deu para ver a macieira da lenda, onde caiu a maçã na cabeça dele. Mas dá para ver uma filha da macieira em Cambridge! Alguém foi até o interior e plantou uma semente na frente do Trinity College. Tem até sites na internet onde você pode comprar mudas da árvore, mas boa sorte tentar entrar com isso no Brasil! Eu, burramente, não tirei foto da filha da macieira, mas tem foto dela na wikipedia:

(foto da wikipedia)

A segunda parada foi em Londres. Um fato meio triste sobre os cientistas famosos é que quase nenhum ficou rico com suas descobertas, e na verdade uma boa parte passava dificuldades. Mas isso não aconteceu com o Newton, ele foi um raro exemplo de cientista financeiramente bem-sucedido. Curiosamente, não foi por causa das suas descobertas, mas por causa do seu hobby!

Newton era um alquimista amador, ou então um proto-químico, dependendo do ponto de vista. A química ainda não era uma ciência desenvolvida na época dele. Mas o fato é que ele tinha muita prática com reações químicas e manuseio de materiais, e com isso ele conseguiu um emprego na Casa das Moedas da coroa britânica, sendo responsável pela cunhagem de todas as moedas da região. A foto abaixo tem um exemplo de moeda cunhada antes do Newton, e uma cunhada pelo Newton, é nítida a diferença entre elas. O processo do Newton permitia mais resolução e era mais difícil de clonar.


E onde ele fazia isso? A sede da Casa das Moedas era dentro da Torre de Londres, mais especificamente naquela parte entre o muro externo e o muro interno. Nessa época ele tinha que morar dentro da Torre, a entrada da casa dele era exatamente nessa porta da foto. Atualmente ali é um museu de numismática. (Eu perguntei se o Newton também usava essas roupinhas de Yeoman Warder, mas ninguém soube responder. Gosto de pensar que sim).


A parada final do tour de stalkear o Newton foi na Westminster Abbey, onde o Newton foi enterrado, com honras de herói nacional. Lá ele tem um monumento enorme, e na frente do monumento tem várias placas dedicadas a outros cientistas ingleses, como o Dirac e o Green. Você vai notar que a foto não está muito nítida, isso é porque na verdade é proibido tirar fotos no local, tivemos que usar o tradicional +2 em Stealth para conseguir.


O motivo para não poder tirar fotos ali é curioso. O Dan Brown resolveu colocar o monumento como parte do livro Código Da Vinci, e tinha tanta gente tirando foto que comprometia o fluxo de gente dentro da capela. Foi mais fácil proibir as fotos naquele lugar. Achei muito errado os stalkers do Dan Brown ficarem atrapalhando nós, os pobres stalkers do Newton. Mas fazer o que né, eventualmente a moda passa e liberam de novo.

Se você quiser arrematar o passeio, ainda pode visitar o museu da Madame Tussauds e tirar fotos com o Newton de cera, dá até para aproveitar e ver o Einstein de cera e o Stephen Hawking de cera :)



sábado, 2 de novembro de 2013

O Segredo de Atlantis

Todo mundo já ouviu falar de Atlantis (ou Atlântida). Segundo um dos diálogos de Platão, antigos documentos egípcios citavam Atlantis como uma ilha circular onde, há 9000 anos, vivia uma civilização muito avançada. Por algum motivo, um cataclisma fez a ilha afundar, e o povo que lá morava desapareceu.

Embora o diálogo do Platão seja ficcional, muitos acreditam que Atlantis realmente existiu, e que o diálogo era ao menos parcialmente baseado em fatos reais. Todo tipo de teoria tenta explicar a queda de Atlantis, desde extraterrestres até seres mágicos de outra dimensão. Mas eu só conheço uma teoria que é plausível do ponto de vista histórico-científico; e, se ela estiver certa, ainda nos dias de hoje você pode visitar o que restou de Atlantis.

Essa teoria começa com vasos:

Vasos gregos


Se você for a um museu de história grega e fizer datação de carbono-14 em todos os vasos que estiverem lá, vai notar um padrão muito curioso. Existem vasos que datam de 1400 AC, 1300 AC, 1200 AC; depois pula um período, e só aparecem vasos de novo a partir de 800 AC, 700 AC e assim por diante. No período de 1100 AC até 800 AC não tem vaso nenhum.

Mais curioso ainda, se você achar algum tablete de barro com inscrições, vai notar não apenas o mesmo fenômeno, como também línguas diferentes. Os tabletes de antes de 1100 AC estão escritos em Linear-B, uma língua que usa caracteres fonéticos e alguns ideogramas. Já os tabletes posteriores a 800 AC usam o alfabeto grego clássico, que foi chupinhado dos fenícios.

O que aconteceu nesse período foi a chamada Idade das Trevas Grega. Por algum motivo, a civilização grega rebootou nesse período de 1100 AC a 800 AC. Antes de 1100 AC, era o ápice da Civilização Minoana, um povo que vivia nas ilhas gregas e tinha tecnologia equivalente à Idade do Bronze: eles conheciam a agricultura, cerâmica, bronze, escrita. A maior realização dessa época foi o palácio do rei Minos, na ilha de Creta, que possuía corredores estreitos e confusos, e certamente foi a inspiração do labirinto do Minotauro.

Máscara de Agamemnon, relíquia dos Minoanos

Porém, aconteceu alguma coisa que fez essa civilização sumir, e os poucos que sobreviveram passaram a viver como na Idade da Pedra: tornaram-se coletores-caçadores que não dominavam a escrita. Somente 400 anos depois os gregos voltaram a dominar a tecnologia perdida, na época em que surgiram as cidades-estados como Atenas e Esparta.

Esse período histórico tem muitas semelhanças com a história de Atlantis. Para um povo que retrocedeu à Idade da Pedra, a civilização Minoana, com suas cerâmicas e palácios, realmente deveria parecer muito avançada.

E o que causou o fim dos Minoanos? A hipótese corrente é que essa civilização sumiu com um mega-vulcão que explodiu na região das ilhas Ciclades. A erupção causou um tsunami gigante que chegou até Creta e matou um monte de gente. Nessa época o número de pessoas que sabia ler e escrever não deveria ser mais que uma dúzia, e se por azar todos eles morreram, os tabletes de barros deixariam de ser documentos para virar tijolos, já que ninguém mais saberia decifrá-los.

E qual vulcão era esse? O início da Idade das Trevas Grega bate com a erupção do vulcão Thera, que, na época, ficava no centro de uma ilha circular, que afundou após a erupção (tcharam!). O que sobrou dessa ilha foi mais tarde rebatizado pelos cristãos como ilha de Santa Irene, e mais recentemente o nome foi adaptado para grego, como ilha de Santorini.

Atlantis hoje em dia

Vendo a ilha em mapas de satélite, dá pra ver claramente que o meio da ilha afundou. Bem no centro tem o que restou do cume do vulcão (hoje em dia tem fontes de água quente por lá):

Santorini vista do alto

Quase tudo bate com a história do Platão, a única coisa que diverge é a data: Platão dizia que Atlantis caiu 9000 anos atrás, bem antes da erupção do Thera. Mas isso pode ter sido apenas um erro de tradução.

Certamente você aprendeu numerais romanos na escola, que são um sistema numérico não-posicional. Os números gregos e os números egípcios da época também possuem sistemas não-posicionais semelhantes. Platão dizia que sua fonte era um documento egípcio, pode ser que o tradutor, na hora de passar de hieroglifos para grego, errou a ordem da grandeza do número, e a data correta seja 900 anos ao invés de 9000 anos. Aí coincide perfeitamente: novecentos anos antes do Platão encaixa certinho na erupção do Thera.

Essa teoria está tão bem fundamentada que me convenceu. Se me perguntarem, eu posso dizer não apenas que Atlantis existiu, como que eu já visitei :)

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Tom's Restaurant

Uma viagem a New York sempre é recheada de visitas a lugares icônicos: a Estátua da Liberdade é certamente a mais famosa; mas tem o Empire State Building, onde o King Kong morreu; a ponte do Brooklin, de onde o Duende jogou a Gwen; e inúmeros outros exemplos. Mas poucos lugares são tão icônicos quanto o Tom's Restaurant:


O Tom's Restaurant fica na esquina da Broadway com a 112, uma ótima desculpa para conhecer a parte de Manhattan que fica ao norte do Central Park:



Visualizar Tom's Restaurant em um mapa maior


E por que ele é tão icônico assim? É porque poucos lugares tem tamanha quantidade de trivia por metro quadrado! Só de ver a foto você já deve ter reconhecido a primeira delas: o Tom's Restaurant é o lugar onde gravavam as externas do Seinfeld:


Além disso, o Tom's Restaurant era o lugar onde a Suzanne Vega costumava escrever as suas músicas, e acabou sendo homenageado no hit dos anos 80, Tom's Diner. A versão que fez sucesso no Brasil era um remix feito pela banda DNA:




Já a versão original da música não tinha nenhum acompanhamento, era totalmente a capella:



O que pouca gente sabe é que essa versão original do Tom's Diner foi o primeiro mp3! O padrão mp3 foi desenvolvido pelo Fraunhofer Institute, e os engenheiros de lá sabiam que a parte mais difícil do codec seria garantir que a voz humana passasse sem nenhuma distorção (já que humanos são muito, muito bons em detectar distorção em vozes). Por isso, eles usavam a versão a capella do Tom's Diner para calibrar o modelo psicoacústico do codec.

Mas a conexão mais inusitada do Tom's Restaurant é com a origem dos buracos negros. O termo "buraco negro" foi criado pelo John Wheeler (que também era orientador do Feynman), e a primeira vez que ele o usou foi numa palestra no Goddard Institute for Space Studies da NASA. E olha só, esse instituto fica exatamente no mesmo prédio do Tom's Restaurant! O restaurante fica no térreo, e os cientistas ficam no último andar.

Com tamanha quantidade de curiosidades, é claro que eu fui visitar né! Se fosse no Brasil, ele seria o Boteco do Tom: a especialidade são as porções de coisas gordurosas. Eu recomendo os muzzarela sticks, achei bem gostosos!


domingo, 24 de junho de 2012

As Catacumbas de Paris

Na década de 80 um programa que fazia muito sucesso era o Acredite se Quiser, apresentado pelo Jack Palance. Ele viajava ao redor do mundo apresentando "o Estranho, o Bizarro, e o Inesperado", que ia desde gorilas albinos até a vida em gravidade zero no Skylab. Naturalmente, era um dos meu programas prediletos!



Ou, se você for jovem, talvez lembre do Jaca Paladium.

Um episódio que me marcou muito foi quando ele falava que debaixo de Paris, a Cidade das Luzes, havia a sua contraparte sinistra: a Cidade da Escuridão. Longos corredores subterrâneos contendo esqueletos, caveiras e todo tipo de restos mortais, de uma época em que os cemitérios da cidade tinham lotado, e os mortos eram largados em corredores abandonados de mineração.

Para uma criança que cresceu assistindo Goonies, qualquer menção de cavernas com caveiras é um delírio né? Sabendo que um lugar assim existia de verdade, eu decidi que tinha que visitar isso um dia. E quando fui a Paris pela primeira vez, duas décadas depois, esse foi o meu passeio predileto!

Para entrar nas Catacumbas, você precisa descer na estação Denfert-Rochereau. Tome o cuidado colocar casacos que sejam fáceis de tirar, lá embaixo não tem ar condicionado e é bastante quente:



Visualizar Catacombs of Paris em um mapa maior

Antes de chegar nas Catacumbas propriamente ditas, você precisa passar por um corredor enorme, estreito e sem iluminação. A parte bacana é que os guardinhas só deixam entrar uma pessoa por vez, em intervalos de 5 minutos. Por isso, todo o caminho inicial você vai fazer sozinho, o que ajuda a entrar no clima:

O corredorzinho estreito

A entrada da Catacumba começa em um grande portal de pedra, com a inscrição "Arrete: c'est ici l'empire de la mort" (Pare! Começa aqui o império da morte). Não que faça muita diferença, não tem como voltar, então se você se arrependeu aqui, dançou.

O portal de entrada

A parte surpreendente é que o local é bonito! Não são um monte de ossos jogados, pelo contrário, eles ficam ajeitados em formações harmoniosas. E não tem nenhuma grade de proteção, você pode encostar nas caveiras se quiser (tem até quem roube ossos para levar para casa: não faça isso, na saída os guardinhas inspecionam sua mochila e te levam em cana se acharem algo).

Eu e parisienses mortos

Se você for sozinho como eu, tirar fotos pode ser um problema. Na falta de lugar para apoiar a câmera, eu deixava ela no automático em cima das caveiras mesmo.

Caveira simpática

No total, são 2km de corredores pelos subterrâneos de Paris. A saída fica próxima da estação Alésia, de lá você pode continuar para passeios menos legais como o Louvre e a Torre Eiffel.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

A Ilusão da Porta

Quando eu estava escolhendo os lugares que queria visitar no Japão, o Daibutsuden não me impressionou muito. No livro estava escrito que era a maior construção em madeira do mundo, mas pela foto parecia pequeno. Estimando pelo tamanho da porta, quanto você acha que ele tem de altura?


Uns quatro ou cinco andares né? Porém, o templo é bem maior do que parece! O problema é um tipo de dissociação cognitiva, você vê aquela coisa que parece uma porta, assume que é uma porta, e estima que deve ter altura de porta. Mas olhando de perto, não é uma porta, é um portão gigante!


Na verdade o templo tem 47 metros (estimando um andar de 3.5m, seria o equivalente a um prédio de 13 andares). E não tem como enganar o cérebro: mesmo tendo visto pessoalmente que era enorme, eu ainda olho a foto e acho que é pequeno.

O mesmo efeito acontece no Taj Mahal. Olhando pelo tamanho da porta, ele parece ter poucos andares de altura:


Mas ampliando no zoom dá pra ter noção da escala, os turistas são aquelas pequenas coisinhas coloridas lá embaixo:


O Taj Mahal tem 65m de altura, equivalente a um prédio de 18 andares. Nas laterais do portão principal, tem vários trechos do Alcorão escrito em caligrafia Thuluth. Os Mughals que construíram o Taj eram excelentes geômetras e sabiam das ilusões de ótica envolvidas, por isso eles usaram uma fonte pequena na base, e aumentaram o tamanho da fonte com a altura. Assim, para o visitante que está no chão, as letras parecem ter a mesma altura.

Outro lugar com tamanho enganador é o Castelo da Cinderela na Disneyworld:


Aqui o efeito é inverso, olhando as torres pela foto o castelo parece imenso, mas na verdade é pequenino! São 58m de altura, menor que o Taj Mahal. Os Imagineers da Disney também são mestres da ilusão: as dimensões do castelo vão diminuindo com a altura, para dar a impressão de que é maior do que parece. As janelas no alto das torres tem só a metade da altura das janelas mais baixas!

Por causa de efeitos como esses que ainda não tem Street View que suplante a experiência de conhecer tudo ao vivo. :)

quarta-feira, 16 de maio de 2012

A Jornada ao Monte Fuji

Tendo a opção de escolha, eu sempre acho mais divertida uma viagem sem guia do que uma viagem com guia. Você acaba aproveitando muito mais o passeio fazendo seu próprio trajeto, ao invés de seguir o caminho padronizado que os guias indicam. Na verdade, eu nem gosto de planejar demais um passeio. Às vezes os melhores lugares para visitar não estão nos mapas, e você só aprende conversando com os nativos do local.

Por outro lado, o meu estilo de planejamento mínimo às vezes dá errado. Na hora foi meio tenso, mas em retrospecto a história é engraçada :)

Kyoto - Hiroshima - Monte Fuji

A nossa viagem de Kyoto a Hiroshima foi super tranqüila. Fomos de trem-bala, fazendo 300km em menos de duas horas (o caminho azul no mapa). O ponto seguinte da viagem era o Monte Fuji, distante 600km (caminho vermelho). Fazendo a conta rápida, estimei que iria demorar umas 4h, então era só pegar o trem-bala às 18h, descer no Monte Fuji às 22h, e descansar o resto da noite no hotel.

Pois bem, eu cheguei às 18h no balcão de informações para perguntar qual trem-bala eu deveria pegar. Em japonês, é claro. Nem no balcão de informações eles falam inglês por lá. Quando eu falei qual era o destino, o atendente me olhou com uma cara confusa, pegou um livrão enorme para procurar o trajeto, e depois de vários minutos me falou o imprevisto número 1: "Olha, não tem trem-bala até o Monte Fuji não, você tem que passar reto até Tokyo, e de lá voltar um pouco de trem normal".

Hiroshima - Tokyo - Monte Fuji

Oops! Refazendo as contas. Até Tokyo são 5h de trem-bala. Assumindo que o trem normal tem metade da velocidade do trem-bala, então pra voltar o trechinho que iríamos passar reto são 2h. Saindo de Hiroshima às 18h, eu estaria chegando no Monte Fuji às 18h+5h+2h = uma da manhã. Mas os trens no Japão param de circular à meia-noite, então estávamos correndo o sério risco de parar no meio do caminho em alguma cidade desconhecida!

Hora de correr então! Para comprar o ingresso do trem-bala eu precisava antes tirar dinheiro numa ATM, mas não contava com o imprevisto número 2: as máquinas das estação só aceitavam cartões japoneses! A única ATM que aceitava Visa ficava na agência do correio a dois quarteirões dali. Então lá vai Ricbit até os correios, debaixo de chuva, enquanto a Ila tomava conta das malas lá na estação.

Com o dinheiro em mãos, percebi o imprevisto número 3: se a viagem iria tomar a noite toda, então não teríamos tempo de jantar! A solução foi comprar uma lanche rápido no McDonalds, assim poderíamos ir comendo no caminho.

Pelo menos os sanduíches são iguais aos nossos

Mas foi só depois que nós embarcamos no trem-bala que eu notei o imprevisto número 4. Existem três tipos de vagão no trem-bala: o vagão verde, que é luxuoso e bem caro, o vagão normal, com cadeiras reservadas, e o vagão comum, mais barato, onde você senta onde tiver espaço. Como eu sou mão-de-vaca econômico, comprei o mais barato... e só lá dentro eu percebi que no mais barato não tinha lugar para colocar as malas!

A essa altura o trem já estava em movimento, e enquanto a Ila segurava as malas no corredor, eu tentei achar algum funcionário para ver se tinha como fazer upgrade do bilhete. Acabei achando um bilheteiro, e expliquei a situação pra ele, em japonês (naturalmente, ele não falava inglês). No fim ele ligou para a central e conseguiu fazer o upgrade pra gente. Mas eu posso jurar que no meio da ligação ele usou a expressão gaijin baka.

Depois das 5h previstas, acabamos chegando em Tokyo. Agora era só uma questão de achar o trem que voltava para o Monte Fuji. Mas aí surgiu o imprevisto número 5: quando você está na pressa, pode não ser muito fácil tentar entender o mapa do metrô de Tokyo:

Clique pra ampliar e sentir o drama

Já passava das 22h, nosso medo era passar da meia-noite e os trens pararem. Mas depois de sofrer um pouco pra entender o mapa, consegui bolar um plano. Descobri que tinha um trem expresso que não parava em todas as estações, então poderíamos ganhar algum tempo pegando esse trem.

Estávamos até aliviados, mas aí surgiu o imprevisto número 6: o trem expresso parou na estação Takao, e o maquinista informou que o expresso ia só até ali, quem quisesse continuar tinha que descer e pegar outro trem! O jeito foi descer e esperar o trem normal passar, lembrando que a temperatura estava próxima de zero e batia um vento gelado de doer os ossos!

Acabamos entrando no último trem que saía da estação, torcendo muito para que desse pra chegar no destino antes da meia-noite. Já estava tudo meio deserto, dentro do vagão tinha só a gente e uns poucos tiozinhos que voltavam do trabalho:

Pelo menos ele dormia sem medo de roubarem a pasta dele

Mas esse trem era o pinga-pinga, parava em todas as estações. Como ele perdia muito tempo com as paradas, acabou acontecendo o imprevisto número 7: deu meia-noite, o trem parou e todo mundo teve que descer (eles realmente levam a sério os horários por lá).

Reality check: estávamos sozinhos numa cidade desconhecida, morrendo de frio, e apenas com um BigMac na barriga. A solução foi apelar: já que não tinha mais trem, então faríamos o resto do trajeto de táxi!

Felizmente tinha um ponto de táxi perto da estação, e eu perguntei quanto custaria para ele levar a gente até nosso hotel no Monte Fuji. A resposta foi o imprevisto número 8: ele disse que custava mais ou menos "shiman yen", ou seja, 40000 yen, que é algo próximo de mil reais! Melhor doer no bolso que dormir na rua né? Então lá vamos nós viajar de táxi pelas estradas do interior do Japão.

Trem expresso (azul), Pinga-pinga (vermelho), Táxi (roxo)

Quando finalmente chegamos no hotel, um alívio: eu tinha entendido errado o taxista, ele não tinha dito "shiman yen", mas sim "ichiman yen" (10000 yen, ou seja, 250 reais). Ainda era caro, mas pelo menos não foi o absurdo que eu achei que seria. Até fazer o check-in, acabou que nós só deitamos na cama por volta das duas da manhã.

Moral da história: viajar sem guia sempre é sempre mais emocionante. :)

quarta-feira, 14 de março de 2012

Evangelion World

A primeira vez que assisti Evangelion foi por volta de 1997, na época de ouro dos fansubs brasileiros. Eu comprei a série pelo correio, e foram várias semanas até chegar a caixinha com os episódios gravados em VHS pirata. Desnecessário dizer que foi vício instantâneo!

Até hoje a série faz sucesso, e nos últimos anos teve um revival por causa do remake em HD que está sendo lançado em forma de filmes. O anime ainda é popular o suficiente patra justificar a existência de um parque temático no Japão, e estando lá é claro que não poderíamos deixar de visitá-lo :)

Entrada do Evangelion World

O Evangelion World fica na cidade de Fujiyoshida, bem no sopé do Monte Fuji. Não tem nenhum trem bala que siga direto para Fujiyoshida, então a maneira que eu recomendo para chegar lá é pegar o ônibus direto que parte da estação Shinjuku, em Tokyo (1h30 de viagem, mais ou menos, mas a vista no caminho é linda).

Logo na primeira sala, já tinha um modelo lindão do EVA-01, ele devia ter mais ou menos um metro de altura:


A sala seguinte era a sala de reuniões do Gendo Ikari, completa inclusive com os monolitos sound-only da Seele. Como a iluminação era super bem feita, dava pra tirar uma foto igual à do anime!



Para quem não lembra, o original é assim:


Em seguida, um modelo da Mari, a nova criança que aparece no filme mais recente. Note que não é uma miniatura, ela está em tamanho real, escala 1:1 mesmo!


Na mesma sala tinha o Kaworu em escala 1:1, que eu fiz questão de dar porrada. A verdade que é que eu queria tirar uma foto dando porrada no Shinji, mas ele é tão impopular que nem tem modelo 1:1 dele por lá :)


Logo adiante, um modelo 1:1 do entry plug do EVA-02. A Ila fez questão de ir de vermelho e de comprar uns ear plugs para ficar mais parecida com a Asuka :)


Na sala que tem o entry plug do EVA-02 também tinha uma Asuka em escala 1:1.


Continuando, uma surpresa! O EVA-02 em estado berserk saindo pela parede, em tamanho natural!


Dali em diante você segue por dentro dos corredores da NERV, onde eles recriaram algumas cenas clássicas dos episódios.


Eu sempre achei essa aqui a cena mais angustiante da série inteira:


O Kaji sempre atrás da mulherada:


Nesse corredor tinha só uma porta com um olho mágico. Curioso, fui ver do que se tratava:


Ahá! Era a Ritsuko cuidando da Rei!


Na sequência, o ponto alto do passeio: o EVA-01 em escala 1:1, mergulhado no LCL, exatamente como aparece pela primeira vez no anime.


A cada 15 minutos a Misato tenta conectar o Dummy System no EVA-01 e ele fica doidão:



Depois da apresentação do EVA-01, você entra numa sala cheia de desenhos de produção dos filmes novos. Entre outras coisas divertidas, tinha o walkman que usaram como modelo para o radinho que o Shinji sempre está ouvindo:


Model sheets da Asuka de mini saia, pijama e biquíni:


E também um curioso model sheet da bunda da Asuka:


Na sala final tinha dois painéis para você tirar fotos, o primeiro é da Lilith:


O segundo é um painel semi-transparente onde você pode romper o AT-Field!


Naturalmente, na saída tem a indefectível lojinha onde você pode comprar de tudo:


E note que é de tudo mesmo, até travesseiro gigante da Asuka e da Rei, sucesso entre os japoneses carentes:


Por fim a Ila, que entrou no parque vestida de Asuka, acabou comprando os óculos da Mari e até prendeu o cabelo como ela :)


Mas a experiência Evangelion não termina aqui! Por 500 dólares você pode passar uma noite no hotel do Evangelion, onde você dorme dentro de um entry plug acompanhado de um modelo 1:1 da Rei! É meio caro, mas em geral hospedagem no Japão é cara mesmo, ainda mais para quartos como esse, que tem vista para o Monte Fuji.